quinta-feira, 27 de abril de 2023

Reencontros

Decocional
3“Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram.”
Romanos 8,35-39

        Já faz dias que estou pra escrever este texto, fazendo principalmente menção ao sepultamento do Pastor Amaury, um amigo muito querido de muita gente...
        É fácil se alegrar com os que se alegram... Em aniversários, casamentos e outros eventos em que o riso e a alegria são os principais convidados... Chorar com os que choram é um pouco mais custoso... Tem que ter uma dose maior de empatia e solidariedade... Devo confessar que fui a alguns velórios em que, muitas vezes, ri com algumas pessoas em meio ao choro de outras... 
        Ora lembro o funeral do meu pai, em 2004... Quando cheguei à capela onde estava o corpo, veio aquela crise de choro... Tive que me sentar pra chorar... E chorei muito... Muito mesmo... Só que depois não sei o que aconteceu: secaram as lágrimas, me acalmei, outras pessoas também se acalmaram... 
Aí me incumbiram de fazer uma oração com meus irmãos... Demos as mãos, oramos... Depois até produzi um texto que postei nas redes sociais...
        E um de meus irmãos, lembrando como seu Ronaldo gostava de rir e contar causos, teve a ideia doida de fazer uma rodinha de piadas... Fomos para o lado de fora do cemitério de Irajá e ficamos contando piadas e causos e rindo muito... Sim, era o dia seguinte ao falecimento do meu pai... Sim era o dia do enterro dele... 
        Finalmente, chegou o momento de levar o caixão... Eu e meus irmãos carregamos durante algum período e depois deixamos para os coveiros arriarem na cova... Ali senti uma baita dor... Todos nós sentimos... As lágrimas e soluços voltaram. E com força! Depois secaram de novo, e nos afastamos do local...  À medida que caminhava para a saída do cemitério, não sei explicar: tudo aquilo foi ficando pra trás... Um pastor e um presbítero que lá estavam ofereceram carona pra mim e pra um amigo que também morava em Bento Ribeiro... Aceitamos... No caminho, de novo, rolou contação de causos... Não sei se partiu de mim... Talvez tenha partido... Começamos a contar causos e piadas e cada vez ríamos mais... O pastor e o presbítero entraram na onda contaram também... Ao final daquele dia (um sábado) eu não quis ficar em casa... Fui a um culto onde haveria também a apresentação de uma peça teatral em que eu já havia atuado... Um ator estava demorando a chegar, e eu quase o substituí... Precisou não, ele chegou e fez brilhantemente o seu papel. Mas tenho quase certeza de que eu o substituiria à altura...
        Voltando aos dias atuais e lembrando, de novo, o funeral do nosso amado pastor Amaury, confessei a uma amiga que eu tava indo com a segunda intenção de rever pessoas que eu não via desde mil novecentos e um tantinho assim... Não gostou, me repreendeu, disse que não era momento de lazer, era um momento solene... E ela tá certa, é momento solene sim...
        Saí de casa uma hora antes do enterro e, chegando ao Jardim da Saudade, encontrei pessoas que não via fazia muito tempo... Pessoas que já tinham se acalmado, estavam se abraçando e rindo... Não chegamos ao ponto de contar causos, piadas... Mas olha, não sei explicar... A impressão que tive foi que a tristeza tentou reinar naquele ambiente e não conseguiu... Enfim, foi um dia em que consegui me alegrar com aqueles irmãos que ora se alegravam após terem chorado quando eu não estava por perto pra chorar com eles... Mas acredito que eles compreendem... Deus nos abençoe...

Decottignies,
1º de fevefeiro de 2023

Nenhum comentário:

Postar um comentário