terça-feira, 27 de julho de 2010

Apenas a juventude se foi

Você ainda é a mesma pessoa.
Mais velha, sim, mais cansada
e um pouco também mais frustrada.
E daí?

Muitas estradas você não trilhou
por medo de errar o caminho
e por deixar de caminhar
é que acabou errando.

Tantos momentos você não viveu
por medo de sofrer
e apesar de não ter vivido,
colheu tanto sofrimento.

Muitas flores você não colheu
Para não se ferir nos espinhos,
e se feriu mesmo assim
mas não lhes sentiu o perfume.

Só por fora você mudou;
Apenas mais idade tem.
A juventude é que se foi.
E daí?

Dela você não precisa mais.
Descubra, no dia de hoje,
que ainda sua janela o sol visita
te convidando a viver
e com seu calor se banhar.

Descubra neste instante
que ainda o vento continua tentando
despentear seus cabelos
te convidando a se abraçar por causa do frio.

Descubra nesta poesia
a palavra que faltou mas queria estar presente,
o verso que não foi feito mas tentou se inventar
e tudo que eu não disse para te fazer sorrir
porque não soube como dizer
que a sua juventude passou, sim.
Mas, e daí?
Deus não deixou e nunca há de deixar
de amar você...

Voz do povo, voz de Deus

O povo da cidade com Ló insistia
que seus visitantes deixasse sair
para se divertir com eles.
Se fosse de Deus a voz do povo,
Ele teria que pedir desculpas
a Sodoma e Gomorra.

Faraó escravizou Israel,
e seu povo cantava louvores
aos falsos deuses do Egito.
Perseguiram Israel no deserto
e no mar se afogaram.


Se é de Deus a voz do povo,
Ele terá que pedir desculpas ao Egito.

Israel, algumas vezes, de Deus se esqueceu
e cantou para outros deuses de gesso, madeira, fundição,
e se a voz daquele povo  por acaso é a de Deus,
então Ele se equivocou quando contra o povo se irou...
E vai ter que pedir desculpas.

"Crucifica, crucifica Jesus e solta Barrabás!"
Será mesmo a voz do povo, então, a voz de Deus?
Ah, mas não é mesmo!
A voz de Deus é a voz de Deus,
e a do povo nada mais é do que uma voz
que vai um dia confessar:
Jesus Cristo é o Senhor!

O dia do grito

Vem aí uma vez mais
o dia em que Pedro de Alcântara,
erguendo a espada e a voz, gritou:
Independência ou morte!

Dizem que, desde então,
a pátria amada, idolatrada, salve, salve!
se tornou independente
que nem filho que casa
e larga a barra da saia da mamãe...

E a galera, à beira do rio,
saiu cantando sabe se lá o quê,
mas, com certeza, não foi:
Uh, tererê!

Porque a independência veio
e veio a morte também
inclusive para o rapazinho
que era pai daquele velhinho
parecido com Papai Noel.

O fato virou história,
entrou para as páginas
dos cadernos e livros das crianças
e virou até samba do crioulo doido.

Faz um tempão que morreu
aquela turma toda.
E o gigante pela própria natureza
continua em berço esplêndido
dormindo e sonhando
com a independência de verdade...

O povo heróico, hoje,
conserva, por tradição,
aquele brado retumbante
mas aprendeu outros gritos
até mais fáceis de lembrar:
   
    "Ah, eu tô maluco!
    Vai, Lacraia! Vai, Lacraia!
    Toma, toma, toma, toma!"