quinta-feira, 27 de abril de 2023

O sábio e o outro

Decocional, 2 de fevereiro
                                                                        ... repreenda o sábio, e ele o amará.
            Provérbios 9:8
O sábio e o outro

        Aquele sábio não era chamado de sábio devido à sua bagagem acadêmica ou cultural. Ou ainda devido à idade. Verdade que tinha graduação, pós-graduação, muitas leituras e muita experiência... Mas não usava nada disso para diminuir ninguém. Era amante da sabedoria e acreditava no que havia lido nas Escrituras: “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria.”
        O “outro” não era sábio. Sim, entre aspas porque tolo, também não era... Possuía, é certo, uma certa bagagem, também era amigo dos livros e da leitura e era quase um bacharel. Mas sábio não, não era... Ainda que fosse até dotado de uma certa perspicácia...
        Fato é que o sábio e o outro eram amigos. E ora estavam trabalhando juntos na elaboração de um texto que discorria sobre Abraão, um conhecido personagem bíblico tido como um dos heróis da fé. 
        O sábio dizia o texto, e o amigo o transcrevia, como se fosse um escriba. Em dado momento, o sábio fez acerca do tal herói da fé uma afirmativa com que o seu então auxiliar não concordou. E mui cuidadosa e respeitosamente se contrapôs ao amigo...
- Desculpe, mestre, mas talvez isso não esteja de todo correto... Teve uma vez que ele comprou um terreno...
- Você está enganado – disse o mestre – ele nunca precisou comprar um pedaço e terra. Pode anotar aí...
- Está bem... Se o senhor está dizendo... É que, segundo eu me lembro, parece que uma vez ele precisou mesmo comprar um terreno sim... Para sepultar a esposa... Mas acho que eu não li direito... Como se diz no popular... “Vivendo e aprendendo”...
Ao ouvir isso, o professor fez uma pausa, botou a mão no queixo, pegou o livro sagrado, abriu, folheou e leu em silêncio...
- É... Agora quem aprendeu fui eu... – disse após a leitura, sem um pingo de constrangimento... E mandou o amigo fazer a devida alteração... 

        Depois disso não mais produziram textos juntos. Não que não quisessem, mas porque o “outro” teve lá seus impedimentos. Mas sim, claro, continuaram amigos e se ajudaram em outras oportunidades...

Decottignies

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